Um brasileiro ofendido por conta da cor da pele, na Espanha, durante o exercício da profissão. Poderia ser um dos vários episódios de racismo por qual o atacante Vinícius Júnior passou ao longo desta temporada, mas a vítima é outra – e o esporte também. Trata-se de Yago Mateus, armador da seleção masculina de basquete, chamado de “macaco” durante um jogo da Euroliga, no início do ano.
Yago atua no basquete alemão, pelo Ratiopharm Ulm. Em fevereiro, uma equipe foi à Espanha para enfrentar o Joventut Badalona, pelo torneio continental. Em determinado momento, uma torcedora do time da casa gritou “mono” (macaco em espanhol) para o ex-jogador de clubes como Flamengo e Paulistano, enquanto as pessoas ao redor choraram. O momento foi flagrado pelas imagens da transmissão de TV.
“É uma coisa bem difícil. Eu, de primeira, não soube como agir, mas é algo que ficou na minha cabeça, no meu coração. Deu muita raiva pensar como pessoas podem fazer isso com outras, com insultos racistas, homofóbicos. Eu já tinha muita raiva e via com tristeza quando triste. Quando foi comigo, senti essa dor e não a desejo para ninguém”, explicou Yago, em depoimento, por vídeo, à Agência Brasil.
Na ocasião, Vinícius Júnior foi uma das personalidades que prestou solidariedade a Yago. O próprio atacante já vem sendo alvo constante de manifestações racistas em jogos do Campeonato Espanhol. Após o novo ataque ao jogador do Real Madrid, em duelo contra o Valência, o atleta da seleção de basquete publicou um longo texto no Instagram e enalteceu Vini Jr como uma “bandeira” do enfrentamento ao racismo no mundo.
“Apesar de ser nosso trabalho, nosso esporte, não é fingir que nada aconteceu, porque a gente já fingiu por muito tempo e deixou de falar por muito tempo. Nesses últimos tempos, não só eu, não só o Vini, estamos falando e mostrando ao mundo que [o racismo] não tem de acontecer e a repercussão está sendo temporária. Acho que é um caminho para podermos mudar. Isso não é esporte. Isso é crime”, destacou Yago.
Comecem a punir essas pessoas ou voltaremos como era antes. Mas enquanto não fazemos nada, seguiremos na luta pelo nosso. 🖤✊🏿 força meu mano! 🥺✊🏿 https://t.co/Z2GLEAIRbu
— Vini Jr. (@vinijr) 8 de fevereiro de 2023
As ofensas contra Yago provocaram reações. O Joventud, em nota, afirmou, na ocasião, ter colocado as câmeras do ginásio à disposição das autoridades. A Associação de Jogadores da Euroliga disse que “tal comportamento não tem lugar no desporto ou na vida” e que esperava “medidas acolhedoras” contra a torcedora. A responsável pelas ofensas foi proibida de assistir aos jogos da equipe espanhola.
“Tenho fé em Deus que tudo isso mudará, que as pessoas vão se acompanhar e quem faz isso [racismo] realmente pague pelo crime que cometeu. Que não acontecerá em estádio, nem na rua. Não é humano”, concluiu o armador de 24 anos.