Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos de 8 de Janeiro, o ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Naime disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) avisou sobre ameaças de invasão das sedes dos Três Poderes na manhã do dia 7 de janeiro.
Segundo ele, o alerta foi dado por volta das 10h em um grupo de Whatsapp que reúne representantes de órgãos de inteligência. Naime afirmou que nenhum membro de seu departamento participava do grupo.
“O que me causa estranheza é que no dia 7, às 10h da manhã, a Abin informa claramente que estava confirmado, que tinha uma confirmação de invasão de prédios públicos, e isto foi relatado nesse grupo. Isto foi relatado nesse grupo, às 10h da manhã”, disse Naime.
Naime não soube informar se o secretário interino de Segurança Pública do Distrito Federal tomou conhecimento dessa informação. “Os senhores precisam ver onde essa informação chegou. Se essa informação chegou ao nível de Secretário e Comandante-Geral, eles não tomaram as providências, porque, minimamente, o Gabinete de Gestão de Crise tinha que ter sido acionado nesse momento, ou se as inteligências não passaram essas informações para o Secretário. E aí o que causa estranheza é que, nos relatório que têm… o próprio Secretário relata que ele passa praticamente a tarde inteira informando ao Governador [do Distrito Federal] que estava tudo bem, que estava tudo certo, que estava tudo monitorado.”
acampamento
O coronel voltou a criticar o Exército, argumentando que os militares impediram a Polícia Militar do Distrito Federal de desmobilizar, em dezembro de 2022, o acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército.
“A gente foi impedido. Não participe fazer nem metade do que estava previsto, nem do que não estava previsto, não participe fazer. A PM ficou em um descrédito muito grande. Lembrando que, sobre isso aí, estamos falando de 29 de dezembro, que foi depois dos ataques do dia 12 de dezembro. O que motivava mais ainda a gente a querer acabar com aquele acampamento, e a gente foi impedido pelo próprio Exército Brasileiro”, disse.
“Quem passou a informação ao Comandante-Geral foi o General Dutra [então chefe do Comando Militar do Planalto], mas eu não posso afirmar que a ordem foi especificamente dele. O transmissor da ordem foi o General Dutra”, acrescentou.
Naime já havia feito críticas quando prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, em março deste ano.
Na ocasião, o Exército informou que o “caso está sendo apurado pelas autoridades competentes”.
Atestado médico
Quatro horas antes do depoimento, o coronel apresentou atestado médico alegando falta de condições psicológicas para depor aos parlamentares.
A CPMI solicitou que uma junta médica do Senado analisasse uma situação do policial para confirmar a veracidade do atestado. Durante uma análise da junta, Naime mudou de ideia e aceitou falar à CPMI.
O presidente da comissão, deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA), desconfiou do atestado porque foi apresentado somente após o Supremo Tribunal Federal (STF) negar um habeas corpus apresentado pela defesa do militar.
Na ação, os advogados pediram para ele não ter comparecido à CMPI. O ministro Alexandre de Moraes recusou o pedido, determinando a ida dele ao Congresso, mas garantindo o direito dele de ficar calado e de não responder a todas as perguntas dos parlamentares.
“Quarenta minutos depois da decisão do habeas corpus obrigando o depoente a vir foi apresentado esse atestado médico. Diante dessa realidade, nós determinamos que o depoente viesse até o Senado para ser avaliado por uma junta médica”, explicou Maia.
No início do interrogatório, a relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), perguntou o porquê de o coronel ter mudado de ideia e resolvido falar. O depoente rotina respondeu que, por estar há cinco meses preso, as mudanças na acarretam “alterações ansiosas”.
“Mas como já havia sido controlado ao Congresso, já tinha sido alterado minha rotina, e como não tem nada que eu não pudesse declarar perante essa CPMI, ou qualquer outro órgão do Estado que me chame para depor, e como eu já estava em casa , eu decidi vir, mesmo não estando na melhor performance emocional que poderia estar”, explicou.
O coronal da PM Jorge Eduardo Naime foi preso no dia 7 de fevereiro. Ele é acusado de omissão nos atos antidemocráticos.
*Com informações da Agência Câmara