Bruno Araújo Pereira e Dom Philips sumiram no domingo (5); nas redes sociais, hashtag #CadeDomPhillips e #CadeBrunoPereira chamam atenção. Polícia Federal, Polícia Civil, Força Nacional e Marinha participam das buscas.
Entidades do Brasil e do exterior, ligadas ao jornalismo, à proteção dos direitos humanos e que defendem a preservação do meio ambiente cobram a investigação sobre o desaparecimento do jornalista inglês Philips e do indigenista Bruno Araújo Pereira. Eles sumiram no domingo (5), no trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte.
O Greenpeace disse que “o desaparecimento se deu em meio ao aprofundamento da política anti-indigenista promovida pelo atual governo que, por meio de diversas iniciativas” (leia nota mais abaixo).A organização internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) disse que é “urgente que as autoridades dediquem todos os recursos necessários” para realizar as buscas de Bruno e Dom Phillips.
A Polícia Federal e a Marinha do Brasil apuram o caso, e o Ministério Público Federal (MPF) acionou a Força Nacional e a Polícia Civil para participarem de buscas. O jornalista coletava depoimentos para um livro sobre meio ambiente e o indigenista, segundo organizações sociais, era alvo de ameaças pelo trabalho de defesa dos indígenas (saiba mais abaixo).
Nas redes sociais, os usuários usaram a hashtag #CadeDomPhillips e #CadeBrunoPereira para chamar a atenção para o desaparecimento dos dois.
Print screen de publicação no Twitter — Foto: Twitter/Reprodução
Manifestações
O Instituto ClimaInfo, que trabalha para alertar sobre as mudanças climáticas, também se manifestou sobre o desaparecimento de Bruno e de Phillips. Segundo o instituto, a demora para ações de investigação – que teria começado mais de 24h após o desaparecimento – foi “inaceitável”.
” O Estado brasileiro precisa achá-los”, diz o ClimaInfo.
A organização americana de defesa do meio ambiente Amazon Watch também se pronunciou e disse estar preocupada com o desaparecimento do jornalista e do indigenista. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou uma nota onde aponta que “se une aos esforços” para que eles sejam localizados.
A Abraji reforçou que os dois já haviam sido ameaçados pelos trabalhos que desenvolvem. A associação diz que “faz votos para que eles sejam localizados rapidamente e em segurança”.
A investigação
O desaparecimento de Bruno Araújo Pereira e de Dom Phillips é investigado pela Polícia Federal (PF). Em nota, a corporação disse que “assim que levantadas as informações e, quando disponíveis, encaminharemos para conhecimento de todos”.
O Ministério Público Federal (MPF) instaurou um processo administrativo para apurar o desaparecimento. De acordo com o órgão, a Marinha, as polícias Civil e Federal, a Força Nacional e a Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari participam das buscas.
A Marinha do Brasil informou que enviou uma equipe para procurar o indigenista e o jornalista. A Força será a responsável por conduzir as atividades de busca.
Ameaças
Povos indígenas vivem no Vale do Javari, no Amazonas — Foto: Reprodução/Univaja
Segundo informações da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), o indigenista Bruno Araújo Pereira era ameaçado por madeireiros, garimpeiros e pescadores. Também conforme a Univaja, Bruno Pereira é “experiente e profundo conhecedor da região, pois foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”.
“Os dois se deslocaram com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima à localidade chamada Lago do Jaburu (próxima da Base de Vigilância da FUNAI no rio Ituí), para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas”, diz a Univaja.
O desaparecimento se deu em meio ao aprofundamento da política anti-indigenista promovida pelo atual governo que, por meio de diversas iniciativas – afrouxamento de normas, retaliação a servidores de agências ambientais, paralisação dos processos de multas, estrangulamento orçamentário -, vem acabando com o arcabouço jurídico que protege os recursos naturais e violando direitos fundamentais dos povos indígenas do Brasil, que nunca foram tão atacados quanto no governo Bolsonaro.
Além disso, tramitam hoje no Congresso diversos projetos de lei que, direta ou indiretamente, ameaçam as Terras Indígenas brasileiras. Apelidado de “Pacote da Destruição”, esse conjunto de leis inclui, entre outros, o PL 191/2020, que libera a mineração e outras formas de exploração econômica dentro de TIs; e o PL 490/2007, que advoga em favor do Marco Temporal e por isso é inconstitucional. Esses dois PLs representam graves riscos à integridade dos povo
É urgente que o governo brasileiro mobilize todos os esforços necessários para encontrar Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips, sob pena deles se tornarem vítimas desse contexto de insegurança disseminado pela “política do vale-tudo” que se estabeleceu na Amazônia.”
O que diz a Funai
“A Funai informa que acompanha o caso, está em contato com as forças de segurança que atuam na região e colabora com as buscas.
Cumpre esclarecer que, embora o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira integre o quadro de servidores da Funai, ele não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares.”