O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrará, nesta sexta-feira (10), com o mandatário dos Estados Unidos, Joe Biden, em Washington em meio a uma tensão entre os norte-americanos e a China.
Na quinta-feira (9), data da chegada de Lula ao país, foram divulgadas informações oficiais –que até então eram confidenciais– sobre o balão chinês abatido enquanto sobrevoava o estado de Montana.
Conforme o Departamento de Estado dos EUA, o balão era capaz de monitorar sinais de comunicação e fazia parte de uma frota que passou sobre 40 países em cinco continentes. A China, por sua vez, afirma que se trata apenas de um balão meteorológico.
O episódio aumenta a tensão entre as duas potenciais mundiais, que também disputam uma aproximação com o Brasil. Biden deve convidar Lula para a cúpula internacional da democracia em março, numa tentativa de construir uma espécie de aliança ocidental e diminuir a influência da China.
Entretanto, março é o mês que Lula viajará para o país asiático. O governo chinês quer aumentar ainda mais os negócios no Brasil, parceiro do país no Brics, junto com Rússia, Índia e África do Sul.
O Brasil, por sua vez, quer usar o encontro para tentar convencer o líder Xi Jinping a fazer parte dos esforços pela negociação da paz na Ucrânia.
Entre a atual viagem para Washington e a próxima, para Pequim, o Brasil também fica no meio de uma batalha pela tecnologia. Joe Biden já investiu centenas de bilhões de dólares numa política industrial que tenta deslocar da Ásia para os EUA e outro países a produção de chips.
Um dos contemplados poderia ser o Brasil, que ao mesmo tempo é visto pela China como um parceiro estratégico para receber investimentos em infraestrutura, o que aumentaria a influência chinesa nas Américas.
Para Larissa Wachholz, sócia da Vallya e especialista em Ásia, “o Brasil tem que tomar, sim, um cuidado muito importante de manter uma posição de neutralidade, que faz sentido para o interesse nacional”. “Nunca é fácil manter essa posição, ainda mais em um cenário de conflitos em algumas regiões do mundo. Mas já houve situações no passado que o Brasil conseguiu negociar com os dois lados e, de certa forma, atraiu para si o melhor dessas duas posições. E foi assim até com a tecnologia nuclear.”
“Então, eu acho que a gente precisa trazer essa experiência de novo para o jogo e isso vai ser importante para esses próximos anos que enfrentaremos. Não podemos cair na cilada, de tomar, escolher um lado. São dois parceiros muito importantes, por razões diferentes. Temos que conseguir trabalhar com ambos”, continuou.
Agenda
Às 11h (de Brasília) o chefe do Executivo brasileiro concede uma entrevista na Blair House, também conhecida como “The President’s Guest House” (Casa de Hóspedes do Presidente, em tradução livre), por costumeiramente ser a residência oficial onde ficam os chefes de Estado que visitam Washington.
No mesmo local, o petista terá outros encontros. Às 12h30 se reúne com o senador democrata Bernie Sanders, um dos autores da resolução no Congresso para que, no ano passado, o resultado da eleição no Brasil fosse imediatamente reconhecido, o que foi visto como um ato em defesa à democracia.
Para as 13h15, está programada uma audiência com deputados do Partido Democrata. Às 14h, Lula se reunirá com representantes da Federação Americana de Trabalho e Congresso de Organizações Industriais.
A chegada à Casa Branca está programada para 17h30, com a fotografia oficial no local. A partir das 18h começa sua reunião com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Segundo apuração da âncora da CNN Daniela Lima, o presidente brasileiro quer construir uma relação pessoal com Biden, a exemplo do forte vínculo que tinha com George W. Bush e do bom elo que construiu com Barack Obama. Esse último, inclusive, chegou a se referir a Lula como “o cara” durante uma reunião do G20, em Londres.
A expectativa é de que Lula também leve para o centro do debate a importância do Brasil para a manutenção da democracia nas Américas e a capacidade do país como força de combate à extrema-direita.
Nesse sentido, o petista deverá falar sobre os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro, e sobre como estão as investigações sobre os atos criminosos.
Fontes ligadas a Lula garantem que o presidente brasileiro está preparado para responder sobre as ações do Supremo Tribunal Federal (STF) no caso. Além da diferença das legislações de entre Brasil e EUA, o objetivo é mostrar que o que tem sido feito pela Suprema Corte Brasileira é algo inovador para combater os ataques à democracia.
Outras pautas
Biden, por sua vez, pretende discutir com Lula os problemas e as eventuais soluções para questões raciais e sociais nos dois países. A informação foi confirmada à CNN por diplomatas americanos envolvidos na organização do encontro bilateral entre os dois líderes. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, estará presente na comitiva.
Tanto os diplomatas americanos quanto o Itamaraty concordam que os dois países enfrentam graves problemas nas duas áreas e têm muitas experiências a compartilhar. Ou, como disse um diplomata americano, “um país pode aprender muito com o outro, e vice-versa”.
Lula e Biden também vão conversar sobre como encontrar caminhos conjuntos para defender a democracia e debaterão ações concretas para conter as mudanças climáticas e preservar o meio ambiente.
O presidente brasileiro já adiantou que pretende debater com o colega americano formas de conter a disseminação de informações deliberadamente falsas no mundo digital.
Qualquer avanço neste campo vai depender muito da participação americana, já que as maiores redes sociais do mundo operam a partir daquele país.
Janja vai ter encontro com esposa de Biden
A primeira-dama brasileira, Rosângela da Silva, a Janja, vai ter um encontro reservado com Jill Biden, esposa do presidente dos Estados Unidos, na Casa Branca.
O encontro é mais uma das agendas que compõem a viagem de membros do governo brasileiro, encabeçado pelo presidente Lula à capital americana.
Janja se reúne com a primeira-dama americana às 15h30.