“De onde recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos? Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria?”
Todos estavam tão admirados que diziam: “Não é este o filho de Maria?” O filho de Maria! A admiração de quem o conheceu, o viu criança, viu crescer e agora se tornou alguém. O filho do nosso vizinho, o filho do nosso parente, o filho do carpinteiro, aquele com quem conversamos, aquele com quem brincamos, aquele que fez parte de nossa vida, viveu na nossa vila, esteve aqui e andou pelos nossos caminhos, foi conosco à Sinagoga, rezava conosco, fomos com ele à Jerusalém; sim, o filho de Maria!
Qual a dificuldade dos habitantes de Nazaré? O filho de Maria! Jesus é o filho de Maria e esse é o problema. O filho de Maria, esse assim grudado, encarnado, pele-a-pele, de corpo e alma na nossa humanidade e fragilidade. O filho de Maria, nada de mais singelo e frágil, nada de mais dado, doando livremente. O filho de Maria nada de mais límpido, puro, nada de mais pobre. Nada mais ex-posto e dis-posto, que o filho de Maria. Nada de mais próximo, nada de mais palpável que o filho de Maria. Nada de mais visível que o filho de Maria. Nada de mais identificável que o filho de Maria. Carne da nossa carne, osso de nossos ossos, alma de nossa alma. Nada de mais normal que o filho de Maria. Impossível que esse filho de Maria fosse o Ungido, o Messias!
Causava admiração, mas não viram nele o Filho de Deus. O filho de Maria fosse o cumprimento das palavras ouvidas, esperadas, ansiadas, acalentadas, sonhadas e rezadas séculos e séculos, geração e geração… Não o filho de Maria, ele não, não ele não pode ser; era apenas o filho de Maria. E Jesus não pôde, ali, realizar nenhum milagre.
O Filho de Maria fosse Deus grudado, encarnado…!?; que fosse Deus pele-a-pele, de corpo e alma na nossa humanidade e fragilidade; que o filho de Maria fosse a limpidez, a pureza, a transparência de Deus; que ele fosse na nossa pobreza, fosse ex-posição e dis-posição Deus no nosso meio, para eles era muito pouco, pouco demais. O filho de Maria, o Filho de Deus, é palpável demais, visível demais, identificável demais. O enviado, o esperado das nações, o libertador, o salvador, é Deus, o filho de Maria.
O nosso Deus é apenas o filho de Maria…? Não! O nosso Deus não é apenas o Filho de Maria, é o filho de Maria, carne da nossa carne, sangue do nosso sangue, osso dos nossos ossos. Deus humanado, encarnado: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
Cardeal Leonardo Steiner
Fonte: Arquidiocese de Manaus