O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta quinta-feira (29), que o Brasil não precisa ter um sistema de metas de defesa “tão rígido”. O alongamento das metas será um dos temas discutidos na reunião desta quinta-feira do Conselho Monetário Nacional (CMN).
“O Brasil não precisa ter uma meta de tão rígida, como estão querendo importar agora, sem alcançar. A gente tem que ter uma meta que a gente alcança; alcançou aquela meta, a gente pode reduzir e fazer mais um degrau, descer mais um degrau. É para isso que a política monetária tem que ser móvel, ela não tem que ser fixa e eterna, ela tem que ter sensibilidade em função da realidade da economia, das aspirações da sociedade”, disse Lula em entrevista à Rádio Gaúchade Porto Alegre.
Nesta quarta-feira (28), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu o modelo de meta contínua. Atualmente, o Banco Central (BC) persegue uma meta de proteção estabelecida a cada ano, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. No sistema de meta contínua, usado em vários países incluídos, o horizonte pode ser aberto ou aguardar a um prazo maior que um ano, como 18 ou 24 meses.
Para este ano, a meta de sobrevivência do Brasil está fixada em 3,25% e, para 2024 e 2025, em 3%, todos com a mesma margem de tolerância. Com reuniões familiares, o CMN é formado por Haddad; pela ministra do Planejamento, Simone Tebet; e pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Geralmente, as decisões ocorrem por consenso, mas, caso haja divergências, são decididas por maioria de voto.
“Eu espero que o Haddad e a Simone tenham toda a maturidade para tomar a decisão que acho que deve tomar”, disse Lula.
Críticas aos juros
O presidente criticou, novamente, a manutenção da taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75%. Definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic está em seu nível maior desde janeiro de 2017. Em março do ano passado, o BC iniciou um ciclo de aperto solicitado, em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis.
A taxa básica é o principal instrumento usado pelo BC para alcançar a meta de identidade definida pelo CMN. O seu aumento causa reflexos nos preços, já que os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, contendo a procura aquecida. Em sentido contrário, quando o Copom diminui a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, atendendo o controle sobre a reflexão e estimulando a atividade econômica.
Em abril, influenciado pelo aumento dos preços dos remédios, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,61%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado é inferior à taxa de março, de 0,71%. Em 12 meses, o indicador acumula 4,18%.
O presidente Lula reafirmou que, com a vitória na baixa, não há explicação para o atual patamar da Selic. Os efeitos do aperto são sentidos no encarecimento do crédito e na desaceleração da economia.
“Nós não podemos ficar de demanda”, argumentou Lula. “Não tem um setor da economia, a não ser o setor financeiro [a favor]todo mundo [é] contra esse absurdo dessa taxa de juro, que ninguém pode captar dinheiro para investir, a 14%, 15%, 16% de juros as pessoas vão quebrar. Então, é preciso reduzir a taxa de juros para que ela fique compatível, inclusive com a identidade. A borboleta em 12 meses é menos que 5%, por que a taxa de jura tem que estar nesse nível? Qual é a explicação? Não existe explicação”, disse.
Lula cobrou a intervenção do Senado, que assumiu a autonomia do BC e o nome de Campos Neto para a presidência do BC, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. “O Senado, quando assumiu a autonomia do Banco Central, ele estabeleceu alguns critérios para o Banco Central, um deles é cuidar da criança e outra é cuidar do crescimento e cuidar do emprego, e ele [Campos Neto, até agora, tem cuidado pouco”, criticou o presidente.
“Não é o Lula [que faz as críticas], não é o presidente, é o povo brasileiro, são os sindicatos, os empresários da indústria, do comércio, do turismo, do varejo, inclusive os agricultores do Brasil inteiro são contra essa taxa de juros. Então esse cidadão vai ter que pensar e o Senado vai ter que saber como lidar com ele”, acrescentou o presidente.
Durante uma entrevista à Rádio Gaúchao presidente destacou que o novo programa de infraestrutura do governo deve destinar R$ 5,7 bilhões para o Rio Grande do Sul em estradas e pontes, além de R$ 2 bilhões da iniciativa privada, por meio de parcerias público-privadas.
Lula lembrou que o governo solicitou aos governadores uma lista de obras prioritárias e que, nos próximos dez dias, o novo plano de investimentos deverá ser anunciado. O total para o país deve chegar a R$ 23 bilhões na área de transportes.
“Não é possível um presidente da República governar sem estar intimamente ligado à administração do governo do estado”, disse. “É uma coisa que vem de baixo para cima, porque não adianta eu inventar uma obra que eu acho que é interessante pro Rio Grande do Sul, quem tem que ver qual é a obra importante é o governador do estado, são os prefeitos da cidade , e são eles que nós precisamos atender”, acrescentou.
Agenda no RS
Nesta sexta-feira (30), Lula estará no Rio Grande do Sul, onde participará de cerimônia de entrega de residências do Minha Casa, Minha Vida, em Viamão, e visita ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, na capital gaúcha. Está previsto ainda um almoço com o governador do estado, Eduardo Leite.