De acordo com a pesquisa, as mudanças climáticas podem afetar o Mico Nigriceps, também conhecido pelo nome popular de sagui-de-cabeça-preta.
Sagui-de-cauda-preta no seu habitat natural. – Foto: Almério Câmara Gusmão / Arquivo pessoal
Pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e de outras universidades utilizaram técnicas de modelagem de nicho ecológico para identificar como as mudanças climáticas podem afetar a adequabilidade ambiental nos próximos 50 anos de uma espécie de macaco encontrado na região sudoeste da Amazônia brasileira, o Mico Nigriceps, também conhecido pelo nome popular de sagui-de-cabeça-preta.
O doutorando da Unemat no Programa em Rede em Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal, Almério Câmara Gusmão, é o autor principal do artigo que trata dessa pesquisa e que foi publicado em setembro pela renomada revista internacional Plos One. Ele explica que os pesquisadores aplicaram essa metodologia da modelagem e com isso estimam que a espécie em questão vai perder muito das condições adequadas do habitat e que dessa forma estará seriamente ameaçada.
Almério lembra que essa espécie de primata é pouco conhecida da ciência, uma vez que até o momento haviam registros na literatura de somente cinco indivíduos. Com isso os dados sobre a biologia, distribuição geográfica e ecologia geral dessa espécie ainda precisam ser melhor estudados. A partir desse levantamento foi possível disponibilizar 121 registros de novos indivíduos em 14 locais diferentes, além dos cinco registrados na literatura. As principais características físicas dessa espécie são que o padrão geral é branco-acinzentado na porção superior do corpo, com as extremidades pretas, enquanto que o braço, o manto e o ventre são castanhos-claros e laranja, o dorso é castanho e os membros posteriores laranja-acastanhado e a cauda é completamente preta.
“Nossa pesquisa utilizou como método a modelagem de nicho ecológico, para melhor entender como a adequação ambiental pode limitar a área ocupada pela espécie. Em seguida, projetamos uma distribuição para 2070 com os cenários SSP2-4.5 (mais otimista) e SSP5-8.5 (mais pessimista). Nossos dados confirmaram a distribuição geográfica da espécie como restrita às cabeceiras do rio Ji-Paraná / Machado, mas com extensão de 400 km ao sul. De acordo com os cenários de mudança climática modelados, a área adequada para a espécie diminui em 21% sob o mais otimista, e em 27% no pessimista, cenário ao longo do período projetado de 50 anos. Embora tenhamos ampliado a área de ocorrência conhecida desta espécie, ressaltamos que as mudanças climáticas ameaçam fortemente a estabilidade dessa população recém-descoberta, e que esse perigo é intensificado pelo desmatamento, incêndios florestais e caça”, alerta Almério Gusmão.
O mais alarmante do estudo publicado na revista internacional é que, no caso do estudo para essa espécie de sagui, é que a área de estudo sofreu severa destruição e as projeções para os próximo 50 anos não são animadoras. De acordo com os pesquisadores nesse cenário, além da espécie investigada, toda a biodiversidade pode ser afetada.
Projeções:
Os pesquisadores recomendam intensificar a restauração florestal nas áreas que atualmente são pastagens além de proteger as área que formam o habitar atual e futuro desta espécie. Os dados do estudo mostraram que nos dias atuais a mudança climática nessa região já tem afetado a distribuição de mamíferos de baixa mobilidade que essa tendência mostra que nos próximos anos, 25% das espécies de mamíferos tendem a perder 40% do seu território atual.
Pesquisadores:
Além de Almério, João Carlos Pires e Odair Diogo, que são estudantes de doutorando da Unemat, o estudos contou com a participação como autor da pesquisadora Joine Cariele Evangelista Vale da Universidade de Brasília e Adrian A. Banett da Universidade Federal de Pernambuco.