Por: Cardeal Leonardo Steiner

“Não é difícil perceber na semente lançada na terra todo um mistério cheio de vigor, esperança e fé; um processo ininterrupto e repetitivo de morte e vida, vida e morte. Morrer para nascer, crescer, florescer, dar fruto; e, a partir daí, morrer de novo, para nascer de novo; vida que vem da morte, morte que serve à vida. Vida e morte como dois momentos do mesmo mistério. Assim como um pássaro não pode voar com uma asa só, do mesmo modo, o destino da semente só se cumpre conjugando estes dois verbos: morrer-viver. Eis o “como”, a alma, o espírito, a Lei da Terra” (Fernandes, M.A., Fassini, D.).

É o milagre do Amor que faz germinar e crescer cada semente espalhada na terra. A semente germina e cresce, porque é o amor de Deus que a viceja.

A semeadura visibiliza a dinâmica e a vivacidade da vida e não o trabalho do agricultor, sua luta, sua semeação, seu labor com a terra, seu cultivo, sua espera. Ele semeia, lança, espalha generosamente a semente e depois da vida amadurecida na força e na vivacidade da própria semente, que ele se faz colheita. Colheita porque a semente deixou-se conquistar pela terra, e dela recebeu toda a vida. Tudo para mostrar a autonomia da semente quanto ao seu nasce-morrer, seu morrer-nascer. A questão essencial não é o que o agricultor faz, mas a dinâmica vital que a semente guarda. Ela deseja ser lançada! Então vem à vida, nasce, dá folhas, oferece frutos. O resultado não depende dos esforços e da habilidade do semeador, mas sim do dinamismo da semente que foi lançada à terra, e da terra que, umedecida, acolhe.

Admiramos o mistério da semente na sua força e energia que silenciosamente e despretensiosamente se agita e se movimenta; que alegremente deixa que a terra venha em auxílio e gratamente recebe o cuidado da terra. Se fossemos ver na transparência de um vaso e na lentidão de uma câmera, haveríamos de ver esse mistério tomando corpo, se corporificando, até chegar o tempo de colheita. E o esparramador de sementes passa pelo campo à espera do milagre e se alegra ao perceber os primeiros sinais de que a vida da semente desabrocha e na medida em que cresce e produz fruto, se anima e sente-se acolhido pela terra e pela semente.

Somos sementes. O que importa, o que ilumina, é o dinamismo, a vida que guardamos; que nos foi dado como graça nascer, crescer e frutificar. A vida de Deus em nós, esparramada em nós. Pouco importa, pouco dependente de nós, quase tudo na pendência e dinâmica de Deus em nós. É Ele que atua em nosso silêncio existencial, na nossa cotidianidade, quase distraída, no dia a dia, no dia e na noite, na noite e no dia, na ação e no sono, na atenção e desatenção, no tumulto do dia ou na turbulência da história, na imperceptibilidade de nossos sentidos, na suavidade cativante das relações.

O Reino a acontecer, a crescer, a dar frutos e a não saber da ação de Deus. O Reino verdadeiro, aquele de Deus, a nos transformar e nós, sem o saber. Maturação, realização, pois frutificação.

Fonte: Arquidiocese de Mananaus

Participação.

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