A vacina contra a dengue Qdenga (TAK-003) deve estar nas clínicas particulares do Brasil no segundo semestre deste ano, de acordo com informações dos representantes do laboratório japonês Takeda Pharma e da associação do setor.
Ainda não há previsão de inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS), mas o Ministério da Saúde afirma que a questão é tratada como prioridade. A Qdenga foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na quinta-feira (2).
O imunizante, liberado para pessoas de 4 a 60 anos, pode ser aplicado em quem teve e quem não teve a doença.
Para o infectologista Kleber Luz, consultor de arboviroses da Organização Mundial da Saúde (OMS) e coordenador do comitê científico de arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a aprovação é um avanço e um primeiro passo no combate à dengue.
“A aprovação representa a primeira barreira em uma corrida de obstáculos. Se a Anvisa não aprova, nem pensamos em utilizar. O último obstáculo é a vacinação no Sistema Único de Saúde (SUS). É uma boa notícia, representa uma possibilidade de uso pelo nosso país”, diz o médico, que também faz parte do comitê técnico da dengue na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Luz ressalta que a doença é perigosa, pois promove um choque na pessoa – queda súbita da pressão arterial, redução da oxigenação, diminuição da temperatura – que pode levar ao óbito se não for tratado.
“Na dengue, o choque tem uma rápida instalação. O problema é que essa instalação ocorre quando a febre desaparece. A pessoa está com febre por dois, três dias e, quando some, ela entra em choque. Isso é extremamente grave”, explica.
A aprovação não significa que a vacina já esteja disponível para todos. Como explicou o infectologista, o aval da Anvisa foi a primeira etapa.
O g1 questionou o Ministério da Saúde sobre a possibilidade de a vacina entrar no Programa Nacional de Imunizações (PNI). Em nota, a pasta informou que a inclusão do imunizante no SUS é prioridade e que vai solicitar avaliação do imunizante pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec).
A Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) disse que a previsão é que o imunizante esteja disponível para comercialização pelos serviços privados a partir do segundo semestre de 2023.
Em nota, a associação explica que a vacina precisa ser aprovada pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) para ser disponibilizada para compra.
“Sabemos que na dengue o controle é vetorial, e é muito difícil esse controle. As pessoas não controlam o jardim de plantas, a água parada, e estamos começando a estação chuvosa no país. Tudo isso representa um risco permanente de dengue, zika, chikungunya [as três doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypt]. Por isso essa aprovação deve ser comemorada”, alerta o coordenador do comitê científico de arboviroses da SBI.
Em entrevista ao g1 e à GloboNews, a diretora-executiva de assuntos médicos da Takeda no Brasil, Dra. Vivian Lee, disse que o laboratório espera que a vacina chegue a clínicas particulares do Brasil no segundo semestre deste ano.
A empresa vai aguardar o fim das discussões, no Ministério da Saúde, para definição de preços do imunizante.
Recorde histórico em 2022
O Brasil viveu uma explosão de casos e mortes pela doença em 2022. Foram 1.016 mortes e 1.450.270 casos prováveis da doença – um aumento de 162,5% se comparado com 2021. Nos últimos anos, as maiores epidemias de dengue aconteceram em 2015, 2016 e 2019.
“Primeiro devemos evitar o criadouro. Se tiver uma infestação na comunidade, começamos o combate casa a casa, fazendo inspeção, colocando larvicida nos recipientes. Se a infestação tiver muito grande, usamos o fumacê, mas é sempre o último recurso”, explica Kleber Luz.
O Aedes aegypti também transmite a zika e chikungunya. Apesar de ser o mesmo vetor, as doenças são de vírus de famílias diferentes. Por isso vale lembrar que a vacina é contra o vírus da dengue, não é contra o mosquito.
Todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis à doença, porém as pessoas mais velhas e aquelas que possuem doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial, têm maior risco de evoluir para casos graves e outras complicações que podem levar à morte.
Além da vacina (que ainda não está disponível para uso), não existe um medicamento específico para a doença. A medicação serve basicamente para aliviar as dores. A hidratação do paciente é parte importante do tratamento, pois a dengue é uma doença que faz a pessoa perder muito líquido. Por isso, é preciso beber muita água, suco, água de coco ou isotônicos.
Os principais sintomas são:
- Febre alta > 38°C
- Dor no corpo e articulações
- Dor atrás dos olhos
- Mal estar
- Falta de apetite
- Dor de cabeça
- Manchas vermelhas no corpo
“Não existe dengue sem febre. A dengue também não produz edema nas juntas e articulações e dificilmente dá sinal respiratório. Com a Covid circulando, é importante se atentar aos sintomas. Se você tiver febre com tosse, dor de garganta, espirro, faça o teste da Covid. Inchaço nas articulações, nas juntas, é caminho do chikungunya. Agora, se você tem muita dor muscular, pode ser dengue”, orienta o consultor da OMS.
Vacinas contra a dengue no Brasil
A Anvisa já aprovou uma outra vacina contra a dengue. É a Dengvaxia, da Sanofi Pasteur. No entanto, ela só é vendida na rede privada e não é recomendada para quem nunca entrou em contato com o vírus.
A Dengvaxia é indicada para indivíduos de 9 a 45 anos com infecção prévia por dengue (é preciso fazer o teste sorológico para saber se já teve a doença) e seu esquema de administração consiste em três doses, que devem ser intercaladas num intervalo de seis meses.
Já a TAK-003, da Takeda Pharma, está liberada para a faixa etária de 4 a 60 anos, com ou sem infecção prévia. Ela é aplicada em um esquema de duas doses, com intervalo de três meses entre as aplicações. Ela é composta por quatro sorotipos diferentes do vírus da dengue.
O Instituto Butantan também está desenvolvendo uma vacina contra a dengue: a Butantan-DV. A vacina está sendo produzida com os quatro tipos do vírus da dengue atenuados, ou seja, enfraquecidos. A expectativa é que uma dose seja suficiente, já que, segundo os estudos, a dose adicional não induziu diferenças significativas.