O sistema agroflorestal foi escolhido como alternativa para a conservação do solo, sem causar danos, além de opção de renda
Preocupado com o futuro da floresta, berço dos povos indígenas, o engenheiro agrônomo Maribgasotor Suruí tem incentivado a implementação do sistema agroflorestal dentro da Terra Indígena Sete de Setembro, localizada na região de Cacoal (RO), que fica a 480 quilômetros de Porto Velho. Para o profissional, o sistema agroflorestal é uma forma rentável e sustentável que pode ser desenvolvida sem a necessidade de degradação da mata nativa.
O engenheiro conta que os sistemas agroflorestais são indicados para integrar agricultura e pecuária com a floresta em pé. Características genuínas da região Amazônica são ideais para o cultivo por meio de sombreamento, por exemplo.
É o que afirma o técnico da etnia, ao se referir ao sistema que garante a conservação do solo, a manutenção dos habitats, minimização das alterações climáticas locais, fixação de carbono, geração de renda aos produtores, diversificação da produção, subsistência das famílias, entre outros.
“A agrofloresta é um sistema inteligente que envolve várias culturas no mesmo lugar e ao mesmo tempo. O sistema agroflorestal contribui para resgatar a área degradada com geração de renda, sempre respeitando o princípio de floresta em pé, enriquecendo o solo para manter os micro-organismos vivos e para fazer o seu papel de equilíbrio ecológico”,
explica.
Preocupado com o futuro dos indígenas, o cacique da Aldeia Joaquim, Celso Natin Suruí, destaca que a evolução do projeto é de extrema importância. “Nós temos que avançar. Temos que progredir. Vivemos outros tempos, não andamos mais pelados como antigamente. É nosso dever como todo ser humano, desenvolver, melhorar, crescer”, afirma.
O sistema agroflorestal também recebe o apoio do cacique da Aldeia Kabaney, Wilson Nakodah. Ele detalha a produção atual das aldeias: “A agrofloresta é importante para aumentar nossa produção de castanha. Quando tivermos mudas, faremos enxerto para produzirmos. Queremos ampliar a lavoura que temos hoje. Trabalhamos com café e queremos ampliar. Quando tivermos recursos, a gente compra as mudas e podemos descobrir o que pode dar resultado mais rápido. Temos também o óleo de copaíba. Podemos manejar tudo isso. Planejar esse sonho será bom para o futuro sem ferir a floresta”.
A proposta envolve uma abordagem territorial diferenciada para o enfrentamento das pressões por desmatamento em terras indígenas e inclui ações de capacitação para fortalecer o protagonismo indígena.
O projeto desenvolvido nas aldeias de Rondônia atende quesitos diretamente ligados à sustentabilidade. Segundo o professor Idevaldo Suruí, além da parte ambiental, os cuidados também estão relacionados às questões econômicas e assim promovem desenvolvimento social na Terra Indígena.
“Além de contribuir com a saúde ambiental, também colabora para a saúde social da aldeia trazendo subsídio financeiro para o produtor indígena”, destaca.
Projeto Agrofloresta
O Projeto Agrofloresta é engajado e encorado em sete aldeias na Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal (RO), que fica 480km de Porto Velho. O conhecimento em sistema agroflorestal é aliado aos conhecimentos tradicionais do povo Suruí. O sistema ancestral, tem sido usado atualmente, também como uma ciência que se compromete a ajudar indígenas a incrementar a produtividade, melhorar a rentabilidade e garantir sustentabilidade.
Para ampliar os investimentos a partir deste sistema, os indígenas pretendem fazer um financiamento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Pra isso, contam com assessoria jurídica para dar celeridade ao processo.
“Eles têm um potencial imenso para o autossustento e também para gerar emprego e renda. Além disso, como sabemos, a floresta é deles e ninguém melhor que os indígenas para fazer essa troca que consiste em tirar da terra o que precisam para viver e, ao mesmo tempo, cuidar para que a floresta continue gerando vida. Além do valor agregado comercialmente por ser um produto indígena sustentável”, enfatiza a advogada Cássia Souza Lourenço.
O economista Jorge Gonso, que é especialista em projetos de viabilidade econômico-financeira, estuda uma forma de viabilizar o financiamento para que os indígenas possam trabalhar nas terras, a partir da adequação, regularização e recuperação de áreas degradadas e implantação e melhoramento de planos de manejo florestal sustentável.
“O objetivo é promover o manejo e a produção agroflorestal nas comunidades, de modo a constituir alternativa econômica sustentável ao desmatamento, além de apoiar iniciativas de monitoramento e controle do território e de fortalecimento da organização local”,
explica.
Para Darcio Kawangawa Suruí, a agrofloresta representa uma esperança para o povo indígena. “Queremos nos libertar da pobreza. Temos o direito de trabalhar e ter a nossa própria renda”, diz.
Já o cacique da Aldeia Placa, Janduir Suruí, aponta as dificuldades encontradas atualmente pelos indígenas e vê um futuro melhor com a implantação do projeto. “Temos que andar 50 km no meio da mata para colher castanha, depois trazer de moto. Com a agrofloresta perto, vai ser bem melhor para nós”.
Os projetos direcionados para esse sistema podem trazer resultados importantes como levar benefícios socioeconômicos aos indígenas ao longo dos anos, contribuir com a segurança alimentar de famílias a partir de uma produção agroecológica e também com a formação do maior corredor reflorestado de Floresta Amazônica, que beneficia espécies da fauna.
O agricultor da Aldeia Ur-Pegãin Nilson Mopilapalakar Surui diz que, por muito tempo, os indígenas ficaram de mãos amarradas. “A terra é rica e nós, pobres, sem poder produzir. O homem branco precisa entender que somos gente, igual a eles. Nós queremos ter a nossa lavoura. Queremos dar estudos para os nossos filhos, pagar imposto. A gente tem sonhos como todo mundo”, afirma.