A poucos dias do natal somos surpreendidos com a notícia de mais um assassinato. Dessa vez dentro de um ônibus, nesta última quinta feira. O jovem chamava-se Melquisedeque, que em hebraico significa “rei de justiça” ou “meu rei é justo”. E é
justamente a falta de justiça, aliada a violência, ao desamor, ao egoísmo, a maldade no coração de muitas pessoas, além da inércia e despreparo do Governo do Estado frente a criminalidade que propicia a continuidade da violência, trazendo como consequência a dor e o sofrimento de nosso povo. Não é assim que queremos viver o período natalino, nem qualquer outro dia de nossas vidas.

Semana passada foram os jovens Mauro e Isaac, assassinados dentro da própria clínica veterinária onde trabalhavam. Nesta última quinta, foi a vez do jovem indígena Melquisedeque Santos, da etnia Sateré-Mawé, covardemente assassinado com um tiro na cabeça durante assalto dentro de um ônibus da linha 444 quando voltava para casa após um árduo dia de trabalho.

As redes sociais informam que Melquisedeque tinha apenas 20 anos e estava em Manaus a apenas 4 meses. No dia do assassinato levando uma cesta natalina para sua família, não reagiu e entregou o celular aos criminosos. Havia mudado para a capital para realizar seus sonhos, dentre os quais fazer um curso superior, conseguir um emprego e ainda, levar melhorias para a comunidade indígena a que pertencia em Manaquiri, distante cerca de 166 km da capital.

Nas conversas com amigos são muitos os que afirmam sentir medo, pavor e até revolta só de imaginar se o fato ocorresse com um de seus filhos. A verdade é que há muito tempo não nos sentimos seguros em lugar algum. Nem mesmo dentro da própria casa.

Em um passado recente, 19 de setembro de 2009, mataram o amigo padre Rogério com um tiro na cabeça, dentro da própria residência, aqui em Santa Etelvina, no momento em que fazia suas orações. Após intensas manifestações onde exigíamos justiça e segurança, o governo a época se viu obrigado a criar o Ronda Nos Bairros. Passados tantos anos, mais uma vez cobramos ações planejadas, eficazes e eficientes no combate a criminalidade. Dessa vez, pela morte de tantos jovens.

Fica o exemplo e a força da dona Franciele, mãe de Melquisedeque, que mesmo vivenciando o ápice da extrema dor pediu justiça não somente pelo próprio filho, mas por todos os jovens que vêm do interior pedindo uma oportunidade. Ela recebeu com o coração dilacerado de dor a cesta de natal que o filho havia ganhado e ia esperar para fazer uma surpresa. “Ele estava feliz porque ganhou a cesta de natal do trabalho e ia me dar de presente. Era uma pessoa de Deus”.

Que o governo apresente um verdadeiro Plano de Segurança que funcione não apenas para o período de festas natalinas e de fim de ano. Agora, se não possuir competência para fazê-lo, não será vergonha se ao menos copiar aquilo que um dia deu certo, mesmo que por um breve período.

Bibiano Garcia é filósofo, professor da rede pública municipal. Ex vereador de Manaus e ex secretário executivo adjunto de educação. É Missionário Leigo Redentorista. Ministro extraordinário da Palavra e da Sagrada Eucaristia

Participação.

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