Li muitas mensagens trocadas entre amigos desejando muita saúde para este ano 2022. Todos desejamos e queremos! Porém, você se espantaria se eu dissesse que bebemos em média 7,6 litros de veneno e consumimos centenas de quilos de alimentos contaminados todos os anos? Não queremos a morte, mas por que acelerar esse processo?
Recordo em minha infância que, no quintal de casa, minha mãe cultivava um canteiro adubado com estrume de gado. Era repleto de cebolinha, cheiro verde, chicória, tomate, pepino… A caldeirada de jaraqui era sempre uma delícia. Longos anos se passaram e hoje, aos 83 anos, minha mãe ainda lembra dos dias idos na pequena colônia de “Carobal”, em Alenquer, onde plantavam milho, arroz e feião, sem uma única gota de veneno para controle de pragas. A comida gostosa e orgânica estava sempre a mesa.
Com o passar dos anos, propagandas milionárias foram nos induzindo a pensar que frutas, legumes, grãos, cereais e outros alimentos naturais eram sinônimos de saúde para o corpo. O que o “Agro é Pop, agro é vida” não nos avisaram é que nestes alimentos existe uma enorme presença de agrotóxicos, venenos para controle de pragas.
Os maiores defensores do uso pesado de agrotóxicos são os deputados federais da bancada ruralista que compõem a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), uma das maiores e mais ferrenhas bancadas da Câmara dos Deputados, formada por mais de 200 (do total de 513) de diversos partidos. Eles representam os interesses dos grandes produtores rurais e latifundiários.
No próximo dia 11 de janeiro será comemorado “Dia do Controle da Poluição por Uso de Agrotóxicos”. Sabemos quais são os impactos do uso de defensivos nas lavouras? Contaminam os alimentos, poluem os rios, causam erosão de solos e desertificação, intoxicam e matam agricultores e demais consumidores, além de contribuir para a extinção de espécies animais. Essas são algumas das consequências da agricultura química industrial e do uso indiscriminado de agrotóxicos.
Produtos cancerígenos são facilmente encontrados em alimentos de origem vegetal e animal. Em 2020 foram registrados uma incidência de aproximadamente 19 milhões de casos de câncer em todo mundo, com 10 milhões de mortes. Aqui no Brasil, em 2008, foram registradas 910 mortes em decorrência do contato com pesticidas e agrotóxicos e, nos dez anos seguintes, até 2017, a soma chegou a 7.267, a maioria nas regiões Nordeste e Sudeste.
Dr. Flavio Madruga, médico pós-graduado em Nutrologia e Medicina do Esporte, lista 12 doenças que podem ser causadas pelo consumo contínuo e em excesso de agrotóxicos: câncer, sendo os mais comuns o de mama, cerebral, pulmonar e de próstata; Infertilidade; TDAH; Espectro autista; Doenças nos rins; Danos ao fígado; Alzheimer; Depressão.
Quem lembra dos famosos filmes de Hollywood de antigamente? Sempre haviam pessoas com um cigarro aceso. Era o símbolo de sucesso e poder. Os fabricantes negavam que ele causasse câncer e pudesse matar. Mesmo assim, apesar da forte influência, a escolha de fumar sempre foi individual. Com os agrotóxicos, a situação é mais grave, pois estamos adoecendo e não nos dão direito a escolha.
Por que, um número tão grande de deputados federais, defendem o agronegócio mesmo sabendo que milhares de pessoas sucumbem aos seus efeitos? Talvez eu não tenha a resposta. Mas é bom lembrar que de janeiro a novembro de 2021, as exportações do agronegócio bateram recorde, atingindo o valor de US$ 110,7 bilhões. Segundo a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o faturamento bruto da agropecuária brasileira atingiu mais de R$ 1,1 trilhão em 2021. Por outro lado, o Instituto Nacional do Câncer firma que em 2030, a despesa do Sistema Único de Saúde (SUS) só com os pacientes diagnosticados com câncer de intestino (também chamado de colorretal), alcançará a cifra de R$ 1 bilhão de reais.
O adubo para fortificar o solo e os remédios para os bichos, são veneno para gente. Na contramão dos países desenvolvidos, seguimos o caminho para ter leis mais flexíveis sobre o uso de agrotóxicos, inclusive os que já são proibidos, graças às pressões da bancada ruralista, defensora do agronegócio.
É preciso amadurecermos coletivamente para a defesa da vida, que criemos uma bancada de deputados federais defensores, não do veneno dos agrotóxicos, mas dos alimentos saudáveis. Precisamos de comida, e comida saudável. Os alimentos orgânicos são a nossa única saída.
Bibiano Garcia é filósofo, professor da rede pública municipal. Ex vereador de Manaus e ex secretário executivo adjunto de educação. É Missionário Leigo Redentorista e Ministro extraordinário da Palavra e da Sagrada Eucaristia